“The Culture Map” de Erin Meyer e os feedbacks brasileiros

Consuelo Maia
3 min readMay 22, 2020

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Um dos grandes aprendizados comportamentais no ambiente de trabalho, para mim, que sou uma pessoa movida a fatos e dados, é que nem sempre as coisas são preto no branco. Contexto é rei! Se já exige empatia navegar entre colegas inseridos numa mesma cultura, os desafios de fazer este exercício de olhar o mundo pela lente do outro se torna ainda maior quando os integrantes estão espalhados pelo planeta. E é visando facilitar este dia-a-dia que Erin Meyer compartilha seus aprendizados no The Culture Map.

A autora levanta algumas escalas de comportamento e posiciona os países de acordo com seu hábito cultural. Por exemplo: feedback negativo direto (como acontece em países como Alemanha, França, Espanha) versus uma cultura de feedback negativo indireto (Brasil, México ou Japão).

Achei interessante pensar em como o Brasil está posicionado nas diversas escalas para nos ajudar a navegar no nosso mercado. Confesso que algumas vezes, o meu estilo é oposto ao socialmente mais usado pelos brasileiros. E estas escalas me trouxeram belas reflexões para os momentos de feedback tão comuns no ambiente corporativo.

Vou começar falando sobre o óbvio, mas que muitas vezes não refletimos sobre. Como é a cultura do brasileiro?

  • Somos o que a autora chama de cultura high-context (alto-contexto), ou seja, a mensagem não é direta. Fazemos muito uso de gestos, entonação, mensagens nas entrelinhas e nuances para dar um recado. Nem sempre dizemos o que queremos dizer. Esta é uma bela diferença para a cultura norte-americana, que procura a clareza e a simplicidade acima de tudo.
  • Já o momento do feedback negativo do brasileiro deve ser dado de forma sutil, privativa e sempre balanceando aspectos negativos com aspectos positivos. E aqui já começam as reclamações de colegas que possuem gestores ou subordinados na Europa, por exemplo. A impressão é que os colegas do velho mundo são grosseiros, pois o jeito de dar feedback é no estilo “arranca band-aid”.
  • E outra coisa que sabemos bem: o brasileiro é extremamente relacional. A confiança é construída através de tempo e trabalho conjunto. E não apenas através das interações profissionais em si, mas também de uma relação pessoal. O nosso famoso cafezinho entre uma reunião e outra ou os momentos de troca durante longos almoços. Levanta a mão quem está sofrendo na quarentena sem poder ter aquele olho no olho…

E o que acontece quando pensamos no comportamento do brasileiro e a forma que damos feedback? Quando o feedback é negativo, a fuga é a primeira alternativa. Depois tentamos dar aquela linda camada de açúcar para não parecer que o problema é tão grande assim. E para completar, o recado não é dado de forma clara e direta. São tantas sutilezas ao longo da mensagem, que o receptor tem dificuldade para fazer a interpretação correta.

Então, pensando na nossa cultura, o que fazer para conseguir transmitir a mensagem do feedback negativo de forma respeitosa e direta?

São 3 pontos simples:

  1. A primeira dica vale não só quando você estiver trabalhando com pessoas de diferentes culturas, mas vivendo em qualquer ambiente que precise de mais cuidado: escute e observe mais que você fala e faz. A ideia é aprender as regras implícitas do contexto que você está. É a velha história, temos dois ouvidos e uma boca.
  2. Além disto, o feedback precisa ser compassivo. É preciso entender porque o outro lado se comporta daquela forma, sem julgamento. Esteja genuinamente interessado em ouvir o outro lado. Coloque-se no lugar do outro. Se você não faz parte do problema, você também não faz parte da solução.
  3. E para fechar, temos que trabalhar o poder da clareza. Do que estamos falando? Quais são os exemplos comportamentais? Como a pessoa pode melhorar no futuro? O objetivo do feedback não é descarregar a raiva ou encontrar culpados, mas prover uma oportunidade de desenvolvimento real para quem escuta.

O entendimento dos hábitos comportamentais ditados pela cultura — que pode ser geográfica ou organizacional — é uma poderosa ferramenta para navegar de forma tranquila no seu trabalho, evitando desentendimentos desnecessários. Mesmo que você não lide com times de diversos países, vale a leitura do livro para refletir sobre onde você se posiciona nas escalas comportamentais em relação às pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia.

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Written by Consuelo Maia

Acredito fielmente que marcas podem ser agentes de transformação da nossa sociedade. Publicitária de formação, devoradora de livros e cheia de ideias.

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